Não pretendo em um artigo de site sobre livros desvendar os
mistérios da literatura e de como transformar uma pessoa em um leitor convicto.
Quero apenas pensar no que difere uma alguém que vê o livro como “janelas para
novos mundos e lugares” de alguém que pensa em qual aborrecido é segurar um
peso enorme e ter que desvendar as letrinhas que se juntam, mas não dizem nada.
Até porque ser leitor é o encontro de mundos, o interno e o externo. Imóveis
nos movemos pelas ideias dos outros, fios de atenção infinitos.
Ler é um ato pessoal, quase sempre solitário (mesmo quando
se participa de uma leitura coletiva), extremamente prazeroso e que levamos
para a vida toda, ou pelo menos tentamos. Quase sempre essa formação do leitor
começa de maneira externa, com os pais, amigos ou ainda um pouco mais tarde,
com os professores.
Vou contar como a
minha começou: não sei!
Parece loucura uma
pessoa que é tão viciada em leitura, que anda lendo uma média de 4 livros por
semana não ter a menor ideia de como se formou uma leitora.
Tenho pistas. Minha
mãe, quando estava grávida lia em voz alta. Era assim que ela fazia com que eu
parasse de me mexer. Minha avó era uma contadora de histórias, inventava
lendas, histórias, contos e “causos”. Sempre fui fascinada pela imaginação
dela. Meu pai me ensinou a ler nas páginas de Política e de Economia dos
jornais – talvez daí venha minha profissão e amor pelo que sou.
Minha casa sempre teve
muitos livros, didáticos, paradidáticos, técnicos, romances, históricos,
biografias. Somos uma família que lê.
Porém, mais do que simplesmente ler, fomos ensinados a
entender o que lemos, a entrar na trama, a pesquisar os assuntos que estamos
lendo. Isso também faz parte da formação do leitor: confie desconfiando,
compreenda a profundidade do que lê.
Foi assim que aos 9
anos eu peguei Segundo Sexo, de
Simone de Beauvoir, para ler. Aos 11 encarei a O Ser e o Nada, de Sarte. Já aos
12 me encantava com Poe e logo depois me descobri uma cética com Shakespeare e
seus romances trágicos.
Aqui temos outra característica do leitor (só contando para
quem já se perdeu: 1ª influência externa; 2ª compreensão do que se lê):
definição de estilo.
Meu estilo é o voraz,
leio rápido e quase qualquer coisa que caia em minhas mãos. Prefiro suspense. Thriller
psicológico e espionagem figuram em minhas listas. Romance água com açúcar,
porque ninguém vive de suspense 24 horas por dia. Em compensação existem
estilos que eu passo longe: autoajuda. Já tentei mais de um título, diferentes
autores, nada. Eu não entro na história. Livros com violência sem sentido, algo
que está sendo mal utilizado na “modernidade”, o gênero chamado dark, eu sinceramente não consigo,
tenho uma grande fragilidade para aceitar a tortura que é estilo. Ou talvez
seja minha incapacidade de separar ficção e realidade, coisas de quem lê jornal
e vê a brutalidade humana.
Lembro de ler em algum lugar que leitores iniciantes fazem
compras por impulso: capa bonita? Vamos comprar! Sinopse interessante – ou
vagamente interessante? Vamos comprar! Amigo indicou? Vamos comprar! É a fase
da quantidade, do quanto mais melhor. Discordo de categorizar leitores como
iniciantes e avançados. Existem leitores.
Tem gente que come de tudo e qualquer coisa. Farofa de
escorpião, sopa de barata. Filé com fritas, risoto parmegiano. Ler é igual. Tem
gente que lê de tudo, que consome de tudo. Compra baseado em experiências, em
dicas, no visual. Tem gente que lê o final do livro e vê se o final é UAU, aí
compra o livro e torce para o escritor ter feito um livro inteiro UAU e não
apenas um bom final. Não existe um método 100% garantido para só comprar bons
livros.
Amo King, mas até ele tem livros sofríveis.
Depois de ler esse microtexto pode até parecer que formar um
leitor é fácil, mas pode ter certeza que é uma das coisas mais difíceis do
mundo. Porque estamos falando de pessoas, gostos, capacidade e incapacidades.
Preconceitos. Medos.
Formar um indivíduo que sabe o que está lendo e que gosta de
ler é uma das coisas mais apaixonantes e mais desafiantes que podemos ter.
Uma última característica intrínseca ao leitor: a capacidade
de reconhecer que é uma atividade satisfatória. Isso só acontecerá se
apresentarmos livros, leituras, palavras e suas maravilhosas utilizações, para
todas as pessoas. Lembrando que nem todo mundo se apaixona por Camões ou
Clarice, mas pode gostar de Cora ou de quadrinhos.
Como dizia um programa do Governo do Estado do Rio de
Janeiro: Ler é o maior barato. Então incentive as pessoas ao seu redor. Ofereça
livros, ofereça leitura, ofereça amor!
Amei o post :)
ResponderExcluirhttps://www.submersaempalavras.com/